segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Escola: o fim definitivo

Entramos nela quando nem ao menos falamos direito. À época, não sabemos ler, escrever, muito menos assumir com consciência os nossos atos. Uma vez dentro desta instituição, à proporção que os anos vão se passando, vamos amadurecendo e adquirindo experiências que ficam para o resto da vida. É nela, também, que se iniciam os primeiros relacionamentos fora dos braços acolhedores de nossos pais e nos enveredamos por caminhos desconhecidos e, muitas vezes, assustadores e sem volta. Estou aqui para provar por que, afinal de contas, a escola é a instituição mais importante que passa por nossas vidas.



Para mim, particularmente, essa fase se iniciou mais cedo que para alguns. Por ter aprendido a ler com 2 ½ a 3 anos de idade, já entrei na escola sabendo escrever e ler e era adiantada demais pras turmas em que ficava. Resultado: pulei de série. Por conta disso, involuntariamente, tive que acelerar algumas fases da minha vida. Enquanto as crianças de nove anos brincavam de pular corda na rua depois de chegar da escola, eu estava em casa abarrotada de tarefas do 6º ano (do ensino fundamental) pra resolver. Contudo, eu nunca tive problemas para acompanhar o ritmo que o ano exigia nem nada do tipo. Outra conseqüência que essa aceleração me trouxe foi o fato de eu ter que lidar com gente dois ou três anos mais velha que eu. Por isso, sem exceção, todos os meus amigos são mais velhos. Às vezes eu até brinco dizendo que é deprimente ver todos eles fazendo 18 ou 19 anos, ganhando sua “liberdade” (entre aspas mesmo) e eu aqui, acabando de completar 16. No entanto, este foi um dos pontos mais positivos dessa história toda. Agradeço por não ter que lidar diariamente com gente da minha idade ou mais nova que eu. Os que eu conheço e têm por volta de 14/ 15 anos, são imaturos demais – e falando de imaturidade, já me basta a dos mais velhos mesmo.

Durante a minha vida escolar, eu estudei ao todo em quatro escolas: uma do 3º período a 1ª série; outra da 2ª série a 3ª; uma da 3ª a 4ª e, por fim, a que eu estou atualmente e estudo desde a 5ª série do fundamental, totalizando treze anos. Durante todo esse tempo, só na escola, contabilizo cerca de 86 professores; 2.600 dias letivos; 520 colegas de classe e 8 diretores. E deve ter sido também mais ou menos isso pra você que está lendo. Já pensou no caso de quem mudou de escola com mais freqüência? Números e nomes demais pra se guardar. É por isso que durante essa longa trajetória só ficam na nossa cabeça aqueles, que de alguma forma, marcaram (e isso acontece em qualquer situação, né).

Em meio a essa maçaroca de gente, destacam-se os professores – que são peça chave em qualquer instituição de ensino. São eles que, através dos anos, nos darão as noções básicas das disciplinas que aplicam. Como se sabe, há vários tipos de professor. Tem aquele que é todo rígido e exigente: esses, geralmente, são ótimos profissionais. Há também aquele que faz o estilo panacão, deixa o caos se instalar na sala de aula e não se dá ao trabalho de tentar explicar alguma coisa, pois o aluno passando de ano ou não, ele ganhará o mesmo salário: esses nunca são respeitados. Podem dizer que é anti-profissionalismo e tudo o mais, mas, para mim, os melhores professores são aqueles professores-amigos. São descontraídos, conversam contigo sem floreios, de um modo que você entenda a matéria e, consequentemente, te fazem sentir mais a vontade para tirar as dúvidas: além de serem os mais amados, esses são muito respeitados também. Eu fico encantada quando encontro um desses professores-amigos que me deram aula há anos e, ainda assim, lembram de mim. Dependendo da profundidade dessa relação, eles acabam virando companheiros de verdade.

É na escola também, que fazemos as primeiras amizades intensas. O convívio diário nos aproxima dos colegas de classe por inúmeros fatores: idade, gostos semelhantes, rotinas quase que idênticas etc. Alguns destes, inclusive, ficam para a vida toda. Contudo, às vezes, dentro da sala de aula, temos que forçar a convivência com quem não gostamos nem um pouco. Dependendo da circunstância e da pessoa em questão, refrear uma discussão torna-se inevitável. Nunca agredi alguém fisicamente, mas discuti (de leve) uma vez com uma colega na 1ª série do ensino médio. Agora, discussões feias e agressões físicas (alheias) guardo de monte na memória (insira risos sádicos aqui).


Um problema que assola muitos estudantes são os seminários, trabalhos em grupos e apresentações. Eu, particularmente, abomino o segundo. Uma das piores coisas no colégio é ser forçado a fazer trabalho com malandros que deixam tudo nas suas costas e, no final, só assinam o nome. Sempre aconteceu comigo e já estou calejada. Por outro lado, nunca tive problemas com relação a apresentar trabalhos ou falar em público. Muito pelo contrário, eu até gosto. Me sinto bem "ensinando" a outra pessoa o que sei.

Há também as repressões que se sofre quando se faz algo de errado na escola. Geralmente, os alunos são levados para a direção, têm uma conversa com o diretor e/ou psicólogo, levam suspensão e, dependendo da gravidade da situação, são expulsos. Eu só fui levada para a direção da escola uma vez em toda a minha vida. Lembro como se fosse ontem. Eu estava subindo a escada, pois o sinal que avisa o final do intervalo tinha acabado de soar e eu estava retornando à sala. De repente, vindo sabe-se lá de onde, surgiu um colega e começou a me empurrar (sem eu ter feito nada, né). Lembro que quase caí da escada e a minha reação foi sair correndo atrás dele para, no mínimo, deixá-lo marcado. E o fiz. Dei um tapa tão grande em seu rosto que a marca dos meus cinco dedinhos ficou lá (insira aqui mais risinhos sádicos). No fim das contas, a coordenadora nos levou à direção, conversei com o diretor em meio a muitas lágrimas (eu era muito chorona. Quer dizer, ainda sou mas...) e depois subimos pra sala. Depois desse dia, ninguém mais mexeu comigo.

É com muito pesar (e contida excitação, confesso) que lhes comunico que encerro neste ano a minha vida escolar. Eu reclamo, xingo todo mundo, já pensei em abandonar tudo (se pudesse), mas, no final das contas, amo aquele lugar. Vou sentir falta de me sentar com a galera na hora do intervalo pra falar besteira; vou sentir falta das guerras de bolinhas de papel e corretivo (yeah!); vou sentir falta de ver os meninos colocarem uma lixeira em cima da porta para quando alguém abrir o seu conteúdo cair em cima dele; vou sentir falta de discutir com os colegas por conta de um projeto que ainda indo de mal a pior; vou sentir falta do porteiro sósia do Seu Madruga; vou sentir falta de acordar atrasada todos os dias e tentar enrolar o Vô (outro porteiro) para ele me deixar entrar; vou sentir falta de ficar excitada todo início de ano ao ir comprar o novo material escolar; vou sentir falta de prometer a mim mesma deixar minha vida escolar mais organizada e acabar não cumprindo; vou sentir falta de me estressar com o pessoal na Educação Física (esporte pra mim é coisa séria, pô); vou sentir falta de ficar desesperada por conta de tantas tarefas; vou sentir falta de subir em cima da mesa e encarnar a Joelma do Calypso (com 9 anos de idade, haha) ou Lady Gaga, como fazíamos mais atualmente; vou sentir falta de muitos professores/funcionários queridos; e, por fim, vou sentir muito mais falta daqueles amigos que, através dos anos, viraram irmãos para mim.

Dessa forma, por esses e outros inúmeros fatos, o colégio é uma verdadeira "escola" para a vida. Lidamos com pessoas indesejáveis, conflitos internos, mudanças involuntárias, somos forçados a realizar trabalhos sob pressão e... Fazemos amigos. Assim sendo, pela primeira vez em toda a minha vida, não sei o que esperar do ano que vem. Provavelmente, quando tudo se encerrar de fato, voltarei a falar neste assunto. Por enquanto, fico com a nostalgia e o nervosismo que me aguardam nesta reta final. Câmbio.